quarta-feira, 29 de abril de 2015

Fall (ida) in Love - Parte 3

Antes de sair declarando todas as coisas coloridas que se passavam em minha mente e de contar sobre todas aquelas milhares de borboletas que estavam "zanzando" no meu estômago e; obviamente; todas aquelas outras - e tantas! - sensações orgásticas inefáveis que eu sentia todas as vezes que pensava ou que O via, eu deveria saber que as coisas - nessa vida real que a gente leva ou empurra - não acontecem como em textos como este: em que eu posso idealizar cada vírgula que é disposta nesta folha de papel.
"Idealizar: v.t.d e v.pron. Projetar ou projetar-se de modo ideal; imaginar alguém de maneira perfeita: idealizar um personagem, um modelo. V.t.d e v.bit. Fantasiar; conceber de modo imaginativo; criar na imaginação. V.t.d. Elaborar a planta ou o plano de; planejar, conceber." Bom, já deu para entender...
(...)

Quando você idealiza muito a subida de um balão de festa junina é bom tomar cuidado: quando ele cair pode queimar muitas casas, quintais, ruas... E ainda fazer com que você seja preso!
Essa coisa de cair, de 'fall'... Já contei que sempre fui uma desastrada? Sempre derrubei coisas, caí bastante, tropecei em diversos lugares e; quando adolescente; cheguei a quebrar mais copos e pratos da minha mãe do que eu pudera imaginar. Ainda bem que só eram pratos. E copos. E isso, meu bem, tem conserto: é só comprar outros novinhos na loja.
Eu sempre caí bastante com os tropeços desta vida e aprendi muito; acredite; até quebrando as tais louças da minha mãe. Acontece que o coração da gente não é como louça e não dá para ir em uma loja de um e noventa e nove; ou em uma daquelas bem caras; e comprar outro. Não, não dá. E isso é o que mais me incomoda.
(...)
Outro dia resolvi dar o meu coração...(eu poderia tê-lo vendido - dessa forma, talvez, ainda pudesse obter algum lucro - mas não: eu dei). Sim! Dei assim "de bandeja", como dizem por aí. Dizem que tudo se torna mais incrível e excitante quando roubam o nosso coração, mas eu achando que estava sendo esperta, recebi dá-lo de presente. Tão ingênua eu!

Fato é que, no meio disso tudo, eu gastei muito esforço e tempo tentando pegar meu coração de volta. Mas creio que ele gostou bastante de ter ficado lá onde ele está: talvez isso faça com que eu evite de deixá-lo ser quebrado, como as louças da minha mãe, uma vez mais. (Já que só há um pedacinho dele inteiro, porque o resto se foi). 
Quereria eu poder comprar outro coração destes novinhos em folha que a gente vê em novela, ou em contos de fadas ou em crônicas fatídicas como esta que eu escrevo agora. Eu dei - e perdi - mais que um coração. Eu fall... fali. Fali totalmente in love. Por outro ângulo, isso me rendeu alguma coisa, além desta imensa vontade de fall, de cair... e não mais levantar.

Allivád Snitram (c) São Carlos, São Paulo, Brasil - 11:25 hrs 29.04.2015


terça-feira, 21 de abril de 2015

O mar dos teus olhos

Dedico para você que me faz viver um mar azul de sensações. 

Com amor.

Ao J.

Querido Diário,


É sempre muito difícil falar "eu te amo". Na verdade, difícil, difícil, não é... mas as pessoas complicam isso o tempo todo. Seria tão mais simples se pudéssemos dizer o que sentimos sem esperar o mesmo em troca ou sem se preocupar se a pessoa vai ficar assustada, sem reação, espantada, perplexa ou feliz. Isso: feliz. Vejam só... eu disse: até mesmo feliz.
Sim! Porque a Felicidade é uma coisa muito rara hoje, muito abstrata. Conceitual. Na realidade, sempre foi. Ou, lá não sei eu, nunca nem existiu. Para falar a verdade, ela é o ingrediente mágico que falta na vida de cada ser humano que nasce e que vive na busca eterna, incansável e fatídica de ferramentas para encontrá-la.
A principal ferramenta para a Felicidade é, justamente, poder identificar-se através do outro, do "conhecer" o outro, pois é desde este detalhe, mínimo talvez, que crescemos enquanto indivíduos e podemos nos reconhecer enquanto a verdadeira essência do que somos. A partir daí, nos tornamos aptos e imersos no conhecimento mais profundo acerca de nós mesmos.
Eu sempre fui de falar "eu te amo" a torto e a direito para as pessoas que eu re-a-l-men-te amo. Sou assim: espontânea, sem escrúpulos e penso que não há porque não falar o que eu sinto, quando eu sinto, para as pessoas pelas quais eu tenho algo que sei que sinto.
Bom, você entendeu: no final das contas, não é só falar - gestos também dizem muito; mais até que as famosas palavras; e as vezes, para você dizer que ama, nem precisa verbalizar: pode parecer clichê, mas apenas um olhar já é capaz de passar toda essa energia desse sentimento tão benigno que é esse tal de Amor.

Bom... mas voltando ao tópico do "verbalizar"o sentimento, vou lhes contar o que me passou outro dia. Como eu disse, sempre falei muito que amava para quem eu amava e quando eu amava. Mas ontem, especificamente ontem, eu vivi a experiência de dizer o primeiro "eu te amo" para uma pessoa que não é meu irmão, nem meu pai, nem minha mãe, nem meus amigos (que a propósito, ouvem isso regularmente de mim), nem a Sofia (minha cachorra). Mas como foi a primeira pessoa, neste sentido e dentro deste contexto tão (e completamente) novo para mim, confesso que não soube mesmo o que fazer.
As palavras saíram naturalmente, segmentadas, ao mesmo tempo (apesar da dicotomia) por um triângulo que os meus olhos faziam enquanto eram direcionados neste sentido: da boca dele para o olho esquerdo, do olho esquerdo para o olho direito e do olho direito para a boca, fiz isso umas três vezes, rápidas, mas que no meu subconsciente demoraram uma vida para acontecer.
Foi tão simples, tão enaltecedor dizer aquilo. Me senti a pessoa mais leve do universo - tanto que poderia muito bem ter virado esse pedaço de papel e ter voado por aí com a menor brisa que houvesse - e; para além de tudo: muito, muitíssimo e extremamente feliz.
Eros e os seus encantamentos. O problema é que me apaixonei pelo filho de Poseidon e eu não sabia nadar. Na verdade, nunca fui muito fã de mar e navios e todas essas coisas que envolvem elementos marítimos. E, um grande problema; não para mim; mas creio que para ele... é que ele queria viver em uma ilha. Uma ilha só dele e creio que ali não havia mesmo lugar para uma pessoa como eu: expansiva, espontânea, sem escrúpulos e nem para o cara que insistia; naquele momento; em me acompanhar: O Amor.
É... esse parágrafo compridão foi tudo o que eu pensei enquanto fazia aquele triângulo lá, com o olhar. E uma lembrança que não sai mesmo da cabeça, fico remoendo isso e já faz 24 horas: ele não disse nada e eu também, sinceramente, não esperei que dissesse, pois como eu disse, eu não faço e nem digo as coisas esperando receber na mesma moeda. A vida seria muito pacata e sem graça se fosse assim.
Ele me olhou, fez exatamente o mesmo movimento em relação à mim, aquele lá... do triângulo com os olhos; passou a mão por sobre a tez da superfície fria (quase congelada de nervosismo) da pele da minha bochecha direita, me olhou bem no fundo dos olhos - quase pensei que ele veria minha alma daquele jeito, eu hein?! - e... não disse nada. Nada. Nadinha.
NADA, gente!
Bom... aí eu fiquei sem graça porque me senti uma completa patética que além de ter acabado de declarar oficialmente o que estava sentindo, ainda estava ali: no meio do mar; que eram aqueles olhos azuis; sem barco com ou sem vela, começando a me afogar.
Fechei os olhos enquanto ele me dava um beijo também. Quando eu abri, continuei olhando para ele em silêncio. Ele também me olhou. Ficamos assim um bom tempo, três minutos, talvez. Me beijou na face, depois me abraçou, me olhou de novo e veio novamente em minha direção... dessa vez, em um beijo terno, sutil, porém demorado. No meio do beijo, eu abri meus olhos - aliás... você já se perguntou porque a gente fecha os olhos quando beijamos? Eu sempre me questiono sobre isso... deve ser porque a gente fica parecendo peixe, se beijar com os olhos abertos... bom, sei lá. 
E quando eu abri, vi que ele, enquanto me beijava, sorria também. Eu comecei a sorrir e, de repente, estávamos os dois lá: rindo sobre nada, juntos no mesmo barco indo talvez para aquela ilha - ou não, mas isso agora já não importava - e sim: acompanhados pelo Amor.
Ele não disse e também não precisa dizer. O que importa é o que eu sinto e, enquanto isso me fizer bem, acredito que devo e lutarei para continuar sentindo. Agora estávamos ali, no meio daquele oceano azul, juntos, unidos e se eu tivesse que nadar ou navegar para chegar naquela ilha... por quê não? Já não dizia Pêssoa que navegar é mesmo preciso e que viver nem sempre é assim? Deixo essa pergunta para vocês responderem, já que preciso voltar para dar um final para essa nova história. É... o amor tem várias formas. Talvez dessa vez eu deva mesmo me afogar.

Maria Clara,
Paris, 31 de dezembro de 1992.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O meu reflexo que é você

Era um espelho apenas, o qual refletia toda uma realidade que estava escondida bem lá no íntimo de um passado não muito distante. O espelho que nos dizia todas as noites, após alguns minutos de deleite, o que éramos: claro que só exteriormente, uma vez que espelhos comuns não tem o poder de ver mais adentro. No entanto, o que me deixa mais aflita, é que agora percebo que aquele nunca fora um espelho comum.
Era um espelho simples. Refletia tudo, como todos os outros, ou... quase tudo, penso agora. Era quadrado e disposto em uma das quatro paredes daquele minúsculo lugar. Não tinha moldura, mas podia muito bem funcionar como um retrato: era o que acontecia, quando nós resolvíamos permanecer diante daquele objeto, diga-se de passagem: mágico. Aquele espelho emoldurava nossos corpos nus, entrelaçados e parados de uma forma que fugia ao natural. Eram dois corpos: um olhando para o outro, ou não. 

Costumávamos ficar ali por alguns minutos: parados, abraçados, pensativos. Como se a força de ambos dependesse decididamente, um do outro. O que não era muito, mas era o que tínhamos: força. Sim! Éramos muito fortes, todavia, sempre pensávamos que os fortes eram os que contribuíam para nossa infelicidade: não era verdade. Mas, naquela época, ainda não dávamos conta disso.
O outro corpo, não conseguia pensar. Não era qualificado o suficiente para isso... tão hipócrita, ingênuo e infantil, mas além disso podia ser alto ou baixo, dependendo do olhar que eu lançava sobre ele. Pelo menos ele podia ser vários ao longo de um período e, ainda assim, continuar com toda aquela essência. O meu corpo, por outro lado, ao se deparar com aquele, se sentia só; apesar de haver uma incrível e tão harmoniosa conexão entre os dois. Eu me sentia uma formiga, uma formiga longe da sua própia sociedade e logo, por isso: uma formiga perdida. Eu havia me perdido naquele abismo, me afogado naquele mar... no abismo que era a cor dos meus olhos negros e no mar daquele azul sem fim refletidos tão perfeitamente no espelho: em noites sem lua, em noites sem festas, em noites comuns.
Eu permanecia em devaneios por minutos, horas até. E o outro corpo, me acompanhava em tudo, talvez não na mesma linha de pensamento, mas decerto sempre estava ali: presente, bem junto à mim. Creio que se eu o perdesse, enlouqueceria e chegaria até, a perder a minha própria alma. E apesar dele ser tão ingênuo, creio que sem aquele outro corpo comigo eu não seria capaz de ter um raciocínio lógico, tão lógico assim.
Em minhas crises existenciais de "Ser ou não ser", ele sempre se mantivera ao meu lado, assim como o espelho, dependendo do ângulo. Ele sabia o que eu passara até ali e estou certa que sempre torcia para que eu não sentisse muita dor, porque senão: ele fingiria sentir também. Sim! Aquele sabia ser um fingidor, fingia sobre tudo, sobre todas as coisas. Era o seu maior dom, e às vezes, eu me sentia mal por isso. Mas não tinha do que reclamar, afinal de contas, ele jamais hesitara em ir à qualquer lugar que eu fosse, ou fazer tudo o que eu almejava fazer. Com toda a certeza, era o meu companheiro para tudo.
"Espelho, espelho meu... " era o que nós dois fazíamos depois de ficarmos deitados, um sobre o outro, na cama. O espelho era o nosso refúgio: gostávamos - e muito - dele. E como gostávamos! Podíamos ser quem quereríamos ser entre aquelas quatro paredes e o espelho? Ah... uma mera testemunha. Sofríamos bastante com aquele amor, mas gostávamos dele. Não dizem por aí que o sofrimento é opcional? Pois gostávamos desta opção. Foi uma opção minha e daquele outro corpo: sofrer. Se tivéssemos que sofrer, sofreríamos juntos então.
No entanto, eu como ser pensante, às vezes paro e imagino: será que ainda levo muito tempo a fazer tudo isso com ele? Ou será que este corpo também desistirá de mim? Não. Decididamente, ele não pode fazer isso comigo. Nunca poderá e não o fará. Porque sombras, acompanham-nos onde nós queremos, e fazem o que queremos fazer. Apesar de serem fingidoras a maior parte do tempo, podem ser os mais sinceros corpos.
Só fico a pensar, se até o fim de meus dias, acabarei assim: eu, ele: o outro corpo; que é minha sombra; e o espelho.