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Tem certas coisas na vida, que é melhor não fazer ou nunca ter o prazer de provar, de sentir, de viver. Maria Clara sofria de asma. Quando criança tinha muitos ataques e como ela adorava quando Israel, seu pai, a levava para a beira do lago para que ela tentasse respirar melhor! Mas isso era quando ela ainda fora uma criança, ainda quando o seu pai estava vivo. Agora, a sua asma havia voltado: em uma crise maior, que lhe afetava diretamente - além dos pulmões - a mente. E o coração. E Israel já não estava mais ali para levá-la para um ponto de refúgio, de libertação. Quando criança seu pai fora o homem da sua vida, mas depois de sua morte, no período da adolescência de Clara, logo depois surgiu um outro. Ele se chamava Gustavo.
Ela ficava tempos sem vê-lo, mas quando o destino se encarregava de colocá-los lado a lado ou frente a frente, todas as memórias, sensações e lembranças voltavam. Voltavam como um tsuname, ou um tornado ou um abismo: característica tão marcantes dos olhos de Gustavo, pretos cor de abismo. Abismo. Tentação.
Se encontraram por outro acaso do destino. Se abraçaram como há muito não faziam. Um abraço tão apertado, que Clara perdeu o ar: primeiro, por conta da asma. Segundo, por azar de ter fumado. Terceiro, por tê-lo encontrado uma vez mais e ter a plena certeza que logo o perderia. Afinal, quando tragamos a fumaça, ela sobrevive um determinado tempo dentro da gente; às vezes em uma questão de segundos, e depois se esvai. Se tentarmos mantê-la em nossos pulmões, os estragamos e perdemos nossa força vital.Maria Clara sempre tivera que escolher e; uma vez mais, optou por deixar Gustavo ir embora. Sustentá-la por questão de segundos, como a fumaça que saíra de seus pulmões, e esvair-se no ar. Assim: tão livre.