sábado, 14 de fevereiro de 2015

Borboletas

"As borboletas voltaram."
Foi exatamente o que pensei, quando um frio gélido na minha barriga começou a ser direcionado rumo ao coração.
Estava frio. Muito frio, até.
Encostei meus dedos sobre a superfície fina, rendada, fria de uma cortina velha que cobria a visão da minha janela, que dava diretamente para as flores do jardim. Estava infestado delas: diversas cores, tamanhos e energia.
Engoli em seco: ao olhar por aquela armação de madeira velha, a qual constituía uma vasta janela sem sacada, uma daquelas borboletas direcionou minha visão para Ele, que acabara de atravessar a rua em sua forma elegantemente desengonçada de andar.
Fechei a cortina. Respirei fundo. Tremi.
"Ai meu Deus" - pensei.
Naquele momento; creio que fechei para além de uma cortina literal. Eu, decididamente, não queria ver borboletas. Na verdade... até queria, mas no geral, não costumava me dar bem com elas: como se já não bastasse me causarem alergias, ainda ousavam me alimentar com aquela ilusória paixão, que há poucos segundos havia entrado meio cambaleante em um táxi.
Sem dúvida alguma, eu não estava pronta para borboletas. Não queria vê-las. Não as queria mais ali. Ainda mais quando elas insistiam, para além do jardim, invadirem a privacidade do meu estômago.

(...)