domingo, 18 de dezembro de 2011

Tempos e Temporais

O que acontece, geralmente não precisa de lógica para acontecer. O tempo, por exemplo... chove, ensolara, cai folha. Neva. O Tempo... passa, se esvai e se esquece. O Tempo é o amor, é a coberta, é o abstrato. O Tempo faz tanta falta...
Quando eu era criança, morava em uma casa que tinha um riacho no quintal. A maioria dos meus amigos tinham piscina, mas eu não ligava: afinal, eu tinha um riacho no meu quintal. Ele vivia escorrendo, correndo... como o Tempo: se renovando a cada milésimo de segundo, ou o que pode ser convencionado como tal.
Quando chovia e havia todos aqueles temporais... a água do riacho, ficava  turva. Bem turva na verdade. Quanta coisa acontecia em meus neurônios naqueles momentos  lúdicos, em que eu podia ver o mistério da beleza natural acontecer.
Não sei... mas agora, depois de adulta, todas as vezes que vejo chuva, me lembro daquela casa, da relva, da cabana, dos boizinhos do meu avô, da minha avó fazendo bobó de abóbora. E do riacho. Ah! o riacho... como ele dançava quando todas aquelas gotículas de água caíam sobre ele. E eu não precisava de mais nada: aquilo era a minha salvação.
Chove agora. Mas aqui eu não tenho um riacho no meu quintal. Nem piscina. Nem a cabana dos meus avós. Nem meus avós. Nem minha mãe.
Eu até tenho um rio,. Fica próximo... mas não é no meu quintal. Então, acho que não posso dizer que é meu.
Falando nisso... a gente sempre acha que tem um monte de coisa, e fica se iludindo o tempo todo, tentando acreditar que realmente é dono daquilo. Não somos: somos como as gotículas de chuva, que caem na imensidão do rio da Vida.
E que se esvai.
Um tempo bom se foi. Agora começou outro Tempo, que como a chuva, sei que uma hora vai acabar. Creio que vou sentir falta do tempo de temperaturas amenas, das noites alucinógenas de risos, de estudar com bruxos e bruxas, e de visitar todos os dias, o espetáculo maravilhoso que se pode observar de cima de um dos prédios mais famosos do mundo, que fica acima do rio, e um pouco ao lado do meu lar.
Os minutos para mim, são letras, que se formam em palavras com o intuito de se transformar um texto e alcançar o seu fim. Aliás, o tempo é um texto. Nós vamos construindo uma história qualquer, que nós podemos intervir muitas vezes em um bom final. Ou não.
Meu tempo aqui, está se acabando e a única coisa que resta é ficar  olhando a chuva, lembrar da minha infância que tão boa foi, construir meu tempo em histórias como esta, e olhar para  a bagunça do meu quarto, e; ainda assim... conseguir sorrir.
Talvez, você caro leitor, não tenha entendido o que eu quis dizer com todas essas palavras esdrúxulas. No entanto, para mim isso faz pleno sentido. Acho que é algo que muita gente passa quando tenta explicar e acaba ficando como eu: sem saber como falar ao certo o que sente de verdade.
Tenho que dormir, porque dormir, ajuda a esquecer e não sentir toda a tristeza que gotas de água podem causar ao encontrar com um rio. O tempo e seus temporais. Uma hora passa e o sol irradiando seu mais puro e genuíno calor, aparece, reaparece.
Aquece.
Enquanto escrevo, claro... O tempo se esvai. Passou tão rápido!Tudo o que tenho agora, são: livros, café, fumaça.
E muita saudade de casa.
Do riacho.
E daquela chuva...

Coimbra, Portugal 19 de dezembro de 2011, 01:36 a.m.