domingo, 9 de julho de 2023

Eu sentira fome. Sentada em uma cadeira simples, e com os braços apoiados por sobre a minha bancada, eu a deslumbrava. Era tão linda, pálida, cheia. Sua superfície imperfeita, cheia de buracos, era o que tinha de mais destacável naquele pleno céu opaco.

Fome. Eu só pensava na fome... aliás, em todas aquelas fomes: fome de comida, aprendizado, amor, companheirismo...

Em noites como aquela, eu costumava parar, sentar em minha velha cadeira, apoiar os braços por sobre a minha bancada, tão branca quanto neve e olhar aquela circunferência, tão branca quanto a luz. Quando criança, ainda na escola primária, eu lera um conto que dizia que um menino, em uma noite comum, quisera tocar a lua com uma vara de bambu. Às vezes sinto, em noites solitárias com esta, que eu deveria fazer o mesmo e roubar a lua só pra mim.

Todavia, à medida que penso que ao fazer isso, eu tomarei a luz que ilumina as noites de todas as pessoas, eu me sinto apenas uma fútil egoísta que pensa nada mais do que na sua própria felicidade.
"I am a selfish bastard, but I am not alone"...
Neurose. Neurose.
 
Branca, como a lua, naquela imensidão negresca de uma fome sem igual.

Home, 23:15 GMT.


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